sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Depois de assistir "Good Hair"

Olá!

Como prometido aqui vai o post sobre cabelos.
Quero fazer esse post desde que comecei esse blog, mas sempre acabava adiando escrevê-lo porque minha opiniões iam mudando ao longo do tempo (metamorfose ambulante) e ficava, na minha cabeça, reescrevendo o meu texto, até então só imaginário hehe.

Bom, indo direto ao assunto. Cabelo afro natural e o mito do cabelo "bom".
Já começo dizendo que ODEIO esse expressão, ela é um juizo de valor cabelos são diferentes, apenas diferentes, nenhum é melhor ou pior que o outro.
O que temos hoje com o cabelo afro ou crespo (que acontece também com não-negros) é que ele não é bem aceito na sociedade então o que se faz é ensinar, mesmo que sem querer, às crianças isso.

Falando de mim agora, quando eu era pequenininha minha mãe sempre fez trancinha, coquinho fofos em mim! (nao tenho fotos digitais aqui pra mostrar) Hoje sei que minha mãe arrumava meu cabelo de um jeito bem legal, mas lembro também de minha amigas na escola (todas com cabelo liso) me perguntando o por que eu não soltava o cabelo, e eu sempre respondia que era porque ele armava!
Quando fui ficando maior minha mãe decidiu que ia me levar à um salão para passar alguma coisa que deixasse meu cabelo cacheado. Começou então uma procura exaustiva de salões decentes, até que ela me levou em um, que eu não lembro o nome mas que ficava perto da Liberdade (bairro de São Paulo), que primetia tratamentos com produtos naturais. Eu deveria ter uns 10 anos na época, eu não me lembro exatamente o que eles passaram no meu cabelo e nem se doeu ou não, mas seja lá o que foi QUEIMOU meu cabelo, eu lembro dele com reflexos avermelhados, de queimado mesmo! Lembro que minha mãe ficou uma fera!

Depois disso fiquei 1 ano sem química. Até que minha mãe, novamente na tentativa de deixar me cabelo com cachos, me levou ao salão Negritude (sim, o do Netinho de Paula), e lá a cabeleireira me indicou um relaxamento. E fiz. A dor foi horrorosa! Ardeu demais. Eu chorava, queria que tirassem! Mas a moça precisva pelo menos terminar de aplicar o produto no meu cabelo inteiro. Eventualmente o processo terminou e fui para casa, pensando o seguinte "depois de toda essa dor, vou ter cabelos esvoaçantes", sonho meu, meu cabelo continuou armado e sem cachos, a única diferença é que ele não era mais tão crespo. Continuei fazendo isso até uns 13-14 anos.
Com 14 anos decidi que queria resolver logo o meu "problema" resolvi trançar, fui ao mesmo salão e pedi que trançassem, meu cabelo tinha um comprimento até os ombros nessa época, e deu pra fazer tranças sem precisar por aplicações de cabelo. Eu gostei muito do resultado! Podia deixá-lo solto e era prático! Continue com tranças até os 16 anos.
Aos 16 quis tirar as tranças e deixá-lo natural, lá me vou para o salão (já não era mais o Negritude) e pedi que cortassem black! A cabeleireira perguntou se eu nao queria fazer um relaxamento para dar uma soltada, eu disse que não (porque pra mim relaxamento não adiatava nada). Depois de cortado redondão e tals, fui pra casa feliz! O tempo foi passando (tinha cortado de manhã) e eu ia mexendo no meu cabelo e vi que ele não estava maleável, estava crespão mesmo, não me exaltei nem nada, mas fiquei preocupada. No dia seguinte percebi que não conseguia arrumá-lo direito, já não estava tão maleável. Voltei ao salão e pedi um relaxamento. O cabelo ficou mais macio e maior. Fique assim até os 18.
Aos 18, deixei ele crescer um pouco, sempre relaxando periodicamente.
Aos 20 usei tranças de novo, com kanekalon dessa vez pois queria experimentar cabelo comprido, fiquei 6 mesmes e tirei, não me dei bem com o peso do cabelo. Voltei a relaxamento, dessa vez varie o corte, deixei mais curto.
Hoje tenho 22 anos e continuo relaxando só variando os cortes.

Pensando nessa trajetória toda eu até me emociono um pouco. Pois sei que foi difícil, tudo esse processo de negar meu cabelo começou sem que eu ao menos me desse conta pois era só uma criança.
Minha mãe, que tinha esse sonho do cabelo cacheado, cresceu do mesmo jeito que eu, com minha vó alisando o cabelo dela, e dizendo que ela ficava mais bonita daquele jeito e não podia deixar o cabelo ficar "duro". Minha vó por sua vez é de uma época mais antiga em que isso era de fato uma vergonha. Parece "muito negro" era feio.
Depois de mais velha, com uns 18 anos, minha mãe parou com os alisamentos e fez o que hoje chamamos de "big chop", cortar toda a química do cabelo e dexá-lo natural. E mesmo com isso ela queria que meu cabelo também fosse diferente do natural, mas nunca me disse que o natural era feio, mas o fato de querer sempre mudá-lo me dava a impressão que o meu cabelo natural era, de fato, "ruim".

Hoje minha mãe tem consciência de que o que ela fez foi uma versão "light" do que o que a mãe dela fez com ela. E que talvez ela não tenha lidado com a situação da melhor maneira possível.


Eu, hoje, depois de ler tudo o que eu já li, e assistir tudo o que eu já assisti sobre o assunto, entendo muitas coisas que eu já senti em relação ao meu cabelo. Eu só queria ser igual a todo mundo (coisa de adolescente), queria me sentir mais bonita e pra mim, poder usar meu cabelo solto, significava ser mais bonita e nunca consegui isso do jeito que eu idealizava. Hoje entendo que temos que nos sentir confortáveis com o cabelo que nascemos. Não podemos odiá-lo porque os outros odeiam, porque os outros acham feio. Hoje eu entendo um pouco mais da textura do meu cabelo natural apesar de não usá-lo desse jeito, por causa da experiência que tive aos 16. Pretendo em algum momento da minha vida usá-lo natural.

Os meus maiores medos são: o "big chop" não sei fico bem como cabelo tão curtinho, tenho o rosto meio gordinho, apesar de ser magra, e a questão de quanto tempo vou precisar para arrumar meu cabelo de manhã. Quase nunca tenho tempo de lavar meu cabelo de manhã, fico pensando em mil coisas pra fazer depois da faculdade e fico pensando se cuidar do meu cabelo se encaixaria nessa rotina louca.

Por enquanto estou no relaxamento. Já pensei em fazer alongamento pra deixar o cabelo crescer por baixo por uns 2 anos, tirar e deixar natural pra ver como é e poder responder minhas próprias perguntas e talvez até descobrir que o cabelo natural vá tomar a mesma quantidade de tempo que o meu cabelo relaxado já toma. Não sei, tenho consciência de que só descobrirei se tentar (coisa que ler e assistir os vídeos do blog da Rosa Jo me encoraja a fazer!)
Acho que o mais importante eu consegui. Não odeio o meu cabelo, não acho que seja "ruim" (isso pra mim nao existe). O problema do tempo que o cabelo consome é um fato relevante pra minha vida que deve ser levado em consideração.
Admiro muito, muito mesmo todas que fizeram a transição e agora exibem seus lindo cabelos naturais sem medo de ser feliz. Pois entendo todos os estigmas e angústias que estão ligados ao nosso cabelo.

Acho que assim que aceitamos o nosso cabelo, e paramos de travar uma briga eterna com ele não importa como decidimos usá-lo seja alisado, relaxado, permanenteado, com alongamento, megahair, natural, careca etc. acho que o mito para de existir em nós. E se nós não perpertuamos isso, os outros vão eventualmente parar de hostilizar nosso cabelo. Não sei se isso é muito "poliana" mas acredito nisso...!


Beijos capilares!



PS: Este é um vídeo que mostra um pedaço do programa americana The View, esse episódio tem a participação do Chris Rock e as mulheres do program debatem sobre o que leva uma mulher negra a optar por formas de modificar seu cabelo.

11 comentários:

  1. Sou doida para assistir good hair, uma pena que n tem no Br. Essa jornada nossa com os cabelos é bem comum, né? Todas crescemos ouvindo que o cabelo é ruim, que não arruma direito, que embaraça... Sei qeu cortei o meu e não me arrependo. O problema todo mesmo é a paciência.

    Qto ao seu formato de rosto, corte no estilo do corte 3 do manual da Beleza Natural (tem no site deles). Fica lindo em rosto redondo. :)

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  2. Nossa, fiquei um pouco emocionada com o seu relato. Acho que todas nós passamos por esses momentos quando éramos crianças. Eu tinha uma vontade louca de me sentir normal e como as outras... Minha mãe me fez passar pela pasta, alisamento, pente quente e coisas desse naipe. Eu ainda vivo no relaxamento também, mas também não acho meu cabelo ruim, só me pergunto como seria se fosse natural.

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  3. @Leela Exatamente!!! Também fico me perguntando como seria se... só arriscando mesmo! XD

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  4. Entrei no blog por acaso e derrepente me deparei com seu texto e o que vc disse caiu como uma luva pra mim. Tambem passei por todos esse processos e atualmente estou com relaxamento, adoro meu cabelo, dá muito trabalhao, mas gosto dele assim mesmo..estou na busca da transformação, mas ainda esta dificil...Adorei o blog.. Identificação total rsrs

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  5. @liz Que bom que vc adorou! A maioria das mulheres negras tem uma história parecida mesma... são anos que reflexão pra conseguir entender o que acontecia com a gente, né? Beijos! Continue visitando o blog! :)

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  6. é passei por todas essas fases...sempre ouvindo que tinha muuuuiiiito cabelo.comecei a alisar com 8, usando escova cumpridão...aos 16 cortei na altura dos ombros, aos 19 passei a usar o cabelo enrolado (minha cabeleireira fazia uma montagem louca, meio permanente, meio alisamento).De uns tempos para cá pensei que eu poderia ver como meu cabelo fica natural...cansei da dependência da pasta, cansei do aspecto espichado na frente, enrolado atrás..rs.estou esperando crescer um pouco para cortar...se não gostar do resultado é só voltar à pasta, mas acho que essa fase da minha vida já passou. Gostei do blog, vou add aos meus favoritos. bjos e sucesso.

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  7. Victoria

    Até que enfim alguém teve cara pra tocar nesse assunto.É engraçado,né,é uma realidade,mas quando a gente tenta trazer pra discussão as pessoas ficam sensíveis,e não querem nem mesmo discutir.Gostei muito do seu texto.Meu cabelo é cacheado,e passei por um processo semelhante na infância - a moda era cabelo liso,escorrido e sem volume = oposto do meu.Só fui entender e aceitar meu cabelo (e depois me apaixonar total por ele) aos 20,21.As pessoas precisam entender que cabelos,aparências e gostos,tudo isso é sobre diferenças.Não existe melhor ou pior,apenas o diferente. abs!

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  8. Oi, Victoria. Acabo de descobrir seu blog, através do blog da Rosa Jo, o qual também tenho usado para me ajudar na transição. Minha hst é bem parecida com a sua e de outras que deixaram comentários aqui. Vou postar um histórico da minha vida capilar no meu site (visite se quiser, vou adorar receber todas lá), mas quero dizer que relaxo há 9 anos e agora decidi parar. Faz 2 meses que relaxei pela última vez, cortei mais curto e já estou "sofrendo" com o volume maior e que o mais me preocupa, como vc, é se terei tempo para ajeitar o cabelo natural de manhã e todo o processo de cuidar dele na minha rotina apertada. Estou com medo e desanimada, sempre penso "nao quero voltar àquele cabelo que eu tinha!" pq sofri muito com ele, e percebo que ainda não o aceito como é. Sei lá como vai ser, fico assistindo alguns vídeos todos os dias para não desistir... beijo e valeu pelo texto!
    Andréa da Luz - www.naovivosemcosmeticos.com.br

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  9. @N�o vivo sem cosm�ticos
    Obrigada pela visita! Qual é o seu blog? Pode deixar que eu visito! (esse site que vc colocou tem várias coisas, fiquei um pouco perdida, é o seu site?)

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